quinta-feira, 15 de abril de 2010

A palavra é: "cotidiano". COTIDIANO comunica


Histórias de bichos

1- Fiquei olhando para o cachorro com simpatia, depois que o dono me disse que ele era de uma raça polar que trazia na sua composição genética/ a disposição para enfrentar ursos, mas tinha que viver trancado no apartamento./ Teríamos muito sobre o que conversar, o cachorro e eu. Lhe confessaria a minha suspeita de que eu também não estava cumprindo meu destino biológico na Terra.

2- Uma vez demos um hamster para as crianças/ e o hamster fugiu da sua gaiola e desapareceu / dentro de uma estante de livros./ Nunca mais foi encontrado./ Durante muito tempo imaginamos que ele reapareceria/ e voltaria gordo e cambaleante, para a sua gaiola./ Atrás do que também nos falta:/ tempo e paz para digerir os / que consumimos com mais voracidade do que método. /Mas o hamster nunca reapareceu. /Desconfiamos que morreu de excesso de cultura.

3- Um amigo me contou/ que seguira os rastros de uma falange de / atravez da sua biblioteca./ Os cupins tinham atravessado coleções inteiras, /capas duras e brochuras,/ deixando atras de si um único túnel/ contínuo e caprichado./ Só tinham interrompido sua marcha uma vez:/ para devorar uma ilustração de pagina inteira ,um dos volumes./ Segundo o meu amigo, a ilustração era de uma biblioteca.

4- Minha infância foi sem bichos mas certa vez/ um gato começou a frequentar, por sua conta, nosso quintal./ Era todo branco e tinha um olho azul e o outro cinza./ Ficou durante anos, nunca entrou na casa e um dia desapareceu,/ tão misteriosamente quanto aparecera./ Talvez tivesse sido alertado pelo nome que lhe demos/ « Bobi »./ Claramente, não éramos pessoas/ com as quais queria ter muita intimidade./

5- Nossos filhos ganharam de presente uma boxer, que chamaram de Rosinha./ A Rosinha cresceu sem muitos cuidados, e fora da casa./ O que deve tê-la marcado, psicologicamente./ Tanto que nas raras vezes em que permitíamos que ela entrasse na casa,/ ou que ela escapava para dentro, tornava-se frenética/ Entrava correndo, derrubando tudo e fazendo xixi por onde passasse,/ inclusive nos pés das visitas./ Era o contrário de cachorro de apartamento:/ liberdade, para ela, era sair da rua e entrar na casa,/ o que também lhe dava a ilusão adicional de ser parte da família./ É claro que não ficou muito tempo conosco./ Não me lembro qual foi seu destino./ E é preciso dizer que no caso de alguns visitantes, /ela só fazia nos seus pés o que a boa educação nos impedia de fazer./

6- Outro amigo contou que, numa visita a um museu de História Natural, apontou um esqueleto de dinossauro e disse para o filho menor que o bicho estava extinto havia 100 milhões de anos. E o filho perguntou : «Isso dá quanto em idade de gente ? »

Disponível em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/08/06/historias-de-bichos-211680.asp
Acessado em 15/4/2010

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